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Por que estudar alemão?

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Alguns alunos começam a estudar alemão por hobby, mas a maioria tem um objetivo claro e específico em mente. Alguns querem aprender alemão porque têm ascendência alemã, outros querem fazer um intercâmbio em um país de fala alemão por um determinado tempo. Há aqueles que querem migrar definitivamente, outros vão casar com alguém cuja língua nativa é o alemão. Enfim, são inúmeros os motivos pessoais e subjetivos para aprender alemão. Em última instância, essa decisão é subjetiva e depende da vontade de quem quer aprender essa língua.

Neste artigo, vou trazer os motivos que enxergo como os principais para um brasileiro começar a estudar alemão, não levando em consideração os motivos pessoais que cada um possa ter e que no final das contas tendem a ser muito mais determinante nessa decisão. Vou tentar trazer dados mais sociológicos e econômicos, já que os motivos pessoais são muito variados e não há muito o que discutir. É um artigo puramente opinativo, não há nada de científico aqui, trata-se da minha visão sobre os principais motivos econômicos e sociológicos que poderíamos ter como brasileiros para aprender alemão.

 

1. Inglês é padrão, o diferencial de hoje é dominar uma terceira língua

O mercado de trabalho já exige uma língua estrangeira extra, além do inglês. Essa exigência pode ser reflexo da globalização: as empresas fazem negócios em diversos países, de modo que é importante que seus trabalhadores possam se comunicar com clientes, filiais, fornecedores, etc. que estejam localizados no exterior. Considerando que muitas multinacionais são de origem alemã, austríaca ou suíça, temos bons motivos para acreditar que alemão é um forte candidato à segunda língua estrangeira.  

Há também um fator indicativo. Quando um candidato a uma vaga mostra, com seu currículo, que domina outra língua além do inglês, de preferência diferente do espanhol, que é uma língua muito próxima, há um indicativo de que este candidato é uma pessoa esforçada, consegue focar sua atenção em projetos que levam tempo e precisam de dedicação e paciência. Há também uma indicação indireta de inteligência, mesmo que isso não seja necessariamente verdade. Essa habilidade, bem prática e objetiva, é vista com bons olhos pelos setores de RH e diretoria executiva. 

Outra questão relevante é que uma empresa não consegue encontrar rapidamente trabalhadores que tenham, ao mesmo tempo, conhecimento técnico em uma área específica e conhecimentos de inglês e alemão, por exemplo. Encontrar um trabalhador com esse perfil não é uma tarefa fácil. Exigir que seus trabalhadores venham a aprender uma língua extra pode levar mais tempo do que os empresários estão dispostos a esperar. Como aprender uma língua pode levar anos, as empresas chegam a valorizar mais que o candidato saiba uma língua extra do que tenha um diploma de MBA, que pode ser conquistado em menos tempo.

 

2. Os países de língua alemã são países com alta renda per capita

 

Diversos autores mostram que a migração humana geralmente ocorre de uma região relativamente mais pobre para uma região relativamente mais rica em termos econômicos. Claro que há migrações por diversos motivos, desde pessoais até religiosos ou políticos, que podem nos fazer migrar para uma região mais pobre. Contudo, esta não é a regra, e é bem intuitivo que a realidade seja assim. Todos nós queremos buscar melhores oportunidades, melhores condições, etc.

Dados de 2017 mostram que os países de língua alemã estão entre os países mais ricos do mundo, quando consideramos a renda per capita. O dado da renda per capita é mais relevante para os migrantes do que o PIB geral, que representa o atacado. Há países pobres com PIB alto simplesmente porque são muito populosos. O interesse do migrante é no micro, não no macro. O migrante quer estar em uma situação pessoalmente melhor do que em sua região de origem, pouco importando se o país em questão é uma potência nuclear mundial ou não. 

Entre os 20 países de maior renda per capita do mundo, temos 4 que tem o alemão como língua oficial: Luxemburgo (1º), Suíça (2º), Áustria (14º) e Alemanha (17º). O que tem a pior classificação, a Alemanha, tem uma renda per capita de aproximadamente 45 mil dólares. Luxemburgo, o mais bem classificado, tem uma renda per capita de aproximadamente 100 mil dólares, seguida da Suíça, com cerca de 80 mil dólares. Em termos de comparação, segundo dados de 2017, o Brasil tem uma renda per capita de pouco menos de 10 mil dólares, valor 4,5x menor que o da Alemanha e 8x menor do que o da Suíça. É uma diferença brutal de renda, mesmo que estes dados não tragam alguns detalhes, como o poder de compra e o custo de vida em cada país, além da existência de uma relativamente forte economia informal em países como o Brasil.

Acredito que a melhor maneira de perceber que eles são mais ricos e mais organizados do que o Brasil é comprando um ticket de avião e vendo com os próprios olhos o nível de riqueza, organização, etc. desses países. Naturalmente, devemos lutar para melhorar o Brasil, afinal de contas não somos nem seremos alemães, suíços, etc. Não quero desestimular a luta pela mudança. Estes dados só nos mostram que há muito o que fazer, desde o micro até o macro. De toda forma, antes de sermos brasileiros, somos seres humanos, esta é uma posição pessoal minha. Como seres humanos, às vezes queremos simplesmente migrar e mudar para um novo ambiente, geralmente melhor do que o de origem. Acredito que países de fala alemã podem satisfazer a procura de muitos por um lugar melhor ao Sol.

 

3. Diversas empresas globais foram criadas ou têm sede em países de língua alemã

 

Há diversas multinacionais que foram criadas ou têm sede na Alemanha, na Áustria, na Suíça, etc. Só de memória, já surgem diversos nomes: Bosch, Volkswagen, BMW, Bayer, Henkel, Adidas, Puma, Credit Suisse, Deutsche Bank, Allianz, Lufthansa, Nestlé, Glock, etc. São nomes de diversos setores da economia. Há grandes empresas do setor químico, automobilístico, bancário, de seguros, alimentar, aéreo, militar, etc. 

São empresas que contratam milhares de trabalhadores ao redor do mundo e pagam altos salários para obter um corpo técnico qualificado e global. Essas empresas valorizam muito o conhecimento técnico específico junto com conhecimentos linguísticos. Essa junção de habilidades é preciosa para os objetos e estratégias globais que essas empresas perseguem. Com certeza, ter um alemão intermediário ou ser fluente em alemão pode ajudar a abrir portas não só nas sedes dessas empresas, mas também em suas filiais ao redor do mundo.

 

4. Os países de língua alemã são grandes exportadores de produtos industriais

 

Neste ponto, a Alemanha se destaca em comparação aos demais países de fala alemã. A Alemanha é um dos maiores exportadores do mundo, sobretudo de produtos industriais. As exportações chegam a representar mais de 40% do PIB alemão, e o país figura por anos nos primeiros lugares tanto na lista que calcula as exportações quanto na lista que calcula as exportações líquidas (já debitadas as importações no mesmo período).

Neste cálculo, não estamos levando em consideração as diferenças populacionais, o que torna os números alemães ainda mais incríveis, já que a população da Alemanha é de pouco mais de 80 milhões. Os números de exportações da Alemanha se comparam aos dos EUA e China, que são países muito mais populosos. Para efeito de comparação, em 2017, as exportações da China, EUA e Alemanha chegaram a aproximadamente 2,1 trilhões, 1,5 trilhões e 1,4 trilhões de dólares, enquanto o país seguinte na lista, o Japão, chegou a apenas metade das exportações da Alemanha, cerca de 700 bilhões de dólares. Os EUA têm cerca de 325 milhões, uma população 4x maior que a da Alemanha. A China tem uma população 17x maior. Esta informação é importante porque as exportações per capita são mais relevantes para quem quer migrar. Em todos os aspectos, a Alemanha é uma potência industrial exportadora. 

Qual a importância desses dados para um migrante? A importância reside no fato de que países exportadores são países com conexões globais, com empresas multinacionais, etc. Essas conexões são exploradas por alguém que domina o alemão e outra língua, só um corpo de profissionais que detenham as qualidades técnicas requeridas e que dominem duas ou três línguas pode fazer esta ponte para os negócios dessas grandes multinacionais de língua alemã. Como vimos, um percentual grande do PIB, que é a geração de riqueza interna, depende do comércio exterior, sobretudo das exportações. Só em termos de exportações, o montante negociado chega a números como 40% do PIB no caso da Alemanha, 65% do PIB no caso da Suíça e 52% do PIB no caso da Áustria. Em termos de comparação, em 2017, no mesmo ano de comparação, as exportações do Brasil representaram apenas 12,5% do PIB. Estes dados mostram que as economias de língua alemã têm mais conexões globais de comércio em termos percentuais de geração de riqueza do que a economia brasileira. 

 

5. Os países de língua alemã são grandes importadores 

 

A Alemanha também figura entre os grandes importadores globais. Tanto em termos de exportações quanto em termos de importações, a Alemanha é um país ímpar. Isso significa que, de uma maneira geral, a Alemanha é o grande parceiro comercial de diversos países. Ou seja, trata-se de um país com grandes conexões globais e cujo PIB tem grande dependência do comércio. Essas conexões são construídas por seres humanos, por pessoas extremamente qualificadas que residem em diversas partes do mundo e conseguem se comunicar com os agentes que estão na sede.

Apenas o conhecimento da língua não é suficiente para alcançar bons cargos nestas empresas multinacionais. O que elas buscam são profissionais que tenham qualificação técnica requerida pelos projetos da empresa e que tenham outras habilidades que ajudem nas conexões globais que elas criam ou pretendem criar. Uma destas habilidades é o conhecimento de alemão, para o caso específico das multinacionais de língua alemã. Saber alemão, que é a língua da sede, inglês, que é a língua global, e outra língua nativa, que seria do país onde a empresa quer fazer conexão, é um conhecimento que traz grande diferencial para empresas que exploram as oportunidades geradas pelas globalização.   

 

6. Os países de língua alemã têm tradição em aceitar migrantes de todo o mundo 

 

Quando observamos os dados relativos, concluímos que os países de fala alemã são grandes recebedores de migrantes de todo o mundo. Podemos observar esta realidade quando analisamos os dados de percentual relativo da população que é formada por migrantes. Ou seja, queremos dados como estrangeiros a cada x habitantes, para analisar o quão receptivos às leis e a sociedade como um todo são com seus imigrantes. 

Na Alemanha, cerca de 15% da população é formada por imigrantes, número um pouco maior que o dos EUA, segundo dados de 2015. Países menores como Luxemburgo e Suíça têm números relativos maiores, chegando a cerca de 45% no caso de Luxemburgo e a 20% no caso da Suíça.

Outra tendência relevante é que estes percentuais têm aumentado ao longo do tempo. Quando tomamos dados de 2005 e 2010, os números são menores em diversos países atratores de imigrantes do que em 2015. Também é importante observar que, do total de imigrantes em todo o mundo, os EUA e Alemanha são os países que mais recebem imigrantes em termos absolutos. Isso significa que estes países são o destino escolhido pela maioria dos seres humanos migrantes do mundo. Provavelmente há um motivo econômico bem objetivo para esses países serem grandes recebedores de imigrantes.

 

7. Os países de língua alemã são democracias sólidas que respeitam os direitos civis dos nativos e dos estrangeiros

 

Segundo dados de 2018 do chamado Democracy Index, apenas 19 países são considerados “full democracies”. Os EUA, por exemplo, deixaram de ser uma “full democracy”, tornando-se uma “flawed democracy” desde 2016. Segundo a instituição responsável pelo índice, este rebaixamento foi resultado de uma tendência de longo prazo que mostra uma perda crescente da confiança nas instituições por parte da população. Entre os 19 países que são considerados “full democracy” estão a Suíça, a Alemanha, Luxemburgo e Áustria. 

Todos os grandes países de fala alemã estão na lista seleta de países que são considerados uma democracia completa. Para ser considerado uma democracia completa, segundo os critérios adotados por The Economist Intelligence Unit, o país precisa não apenas respeitar as liberdades civis e políticas básicas, mas também reforçar estes valores por uma cultura política que conduza ao florescimento de princípios democráticos. Estas nações teriam um sólido sistema válido de pesos e contrapesos governamentais, um judiciário independente cujas decisões são acatadas. Estes países também teriam um governo que funciona de forma satisfatória e uma mídia diversa e independente. Por fim, estas nações teriam apenas problemas limitados no funcionamento da democracia. 

Estas informações são relevantes para quem deseja migrar. Morar como estrangeiro em um país que não seja uma democracia sólida não é o mesmo que morar como estrangeiro em países que respeitam as diferenças, a liberdade de expressão, etc. Claro que a força econômica é a grande propulsora da migração, mas viver como estrangeiro em um país que não respeite as liberdades civis podem causar problemas que superem os benefícios estritamente econômicos. Acredito que a economia e as liberdades civis estão juntas, sobretudo quando estamos pensando na economia do ponto de vista micro, focada no bem-estar individual, e não apenas na potência agregada.

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