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Os seis verbos “colocar”: legen, stellen, setzen, hängen, stecken, einwerfen

Este é outro assunto que é muito mal ensinado e aprendido por falantes de português. O português é uma língua mais polissêmica que o alemão. Se não encararmos este fato, dificultamos de forma desnecessária o aprendizado do alemão. Se o aprendiz coloca na cabeça que o verbo “legen” significa “deitar”, ele pode ter problemas no longo prazo. Não falamos frases do tipo “eu acabei de deitar o livro sobre a mesa”, falamos “eu acabei de colocar/pôr o livro na mesa”. A estrutura desta última frase está em nossas mentes, não a estrutura da primeira. Vejamos os seguintes exemplos:

Ich habe das Buch auf den Tisch gelegt

Eu coloquei o livro na mesa

Wo hast du deine Tasche hingestellt? Auf den Boden

Onde você colocou sua bolsa? No chão

Ich habe meinen Sohn auf den Stuhl gesetzt

Eu coloquei meu filho na cadeira

Wohin willst du dieses Bild hängen? An die Wand

Onde você quer colocar este quadro? Na parede

Wohin hast du den Schlüssel gesteckt? Ins Schloss

Onde você colocou a chave? Na fechadura

Wohin hast du den Brief eingeworfen? In den Briefkasten

Onde você colocou a carta? Na caixa dos correios

Podemos observar que o verbo “colocar” pode ser usado em todas estas 6 situações. Mais que isso, esta é a forma mais natural e corriqueira usada pelos nativos. Ou seja, temos o verbo “colocar” como um verbo polissêmico que não informa em qual posição o objeto deslocado foi colocado. Os falantes nativos do alemão, língua menos polissêmica que o português, tendem a usar um verbo para cada situação. 

Portanto, no contexto de ensino e aprendizado de alemão, temos que prestar atenção para esta especificidade. Não podemos forçar uma relação biunívoca que não existe entre o vocabulário do alemão e o vocabulário do português. As palavras do português têm campos semânticos mais amplos, de modo que forçar esta relação um a um tem sido um desastre pedagógico para os falantes do português. Temos que focar nossa atenção a este fato e entender quando cada um desses verbos deve ser utilizado.

De forma resumida, se colocamos o objeto deslocado em uma posição deitada, como um livro na mesa, usamos o verbo “legen”. Se colocamos este livro em uma posição em pé, por exemplo, como em uma prateleira, usamos o verbo “stellen”. Se colocamos algo/alguém sentado, usamos o verbo “setzen”. Se deslocamos o objeto, colocando-o pendurado em algo, como um sobretudo em um gancho ou um quadro na parede, usamos o verbo “hängen”. Se colocamos o objeto deslocado dentro de algo, como um dinheiro no bolso, um livro na bolsa ou uma chave na fechadura, usamos o verbo “stecken”. Quando colocamos o objeto dentro de algo, lançando-o dentro de algum lugar, como uma carta na caixa postal, usamos o verbo “einwerfen”.

O resultado destas ações, que geralmente são expressas com o verbo “estar” em línguas como o português, também têm causado dificuldades para os brasileiros. Temos um problema inerente causado por nossa língua nativa. Nosso cérebro tende a ignorar a posição do objeto porque não fomos treinados em português para expressar esta informação com verbos específicos. Os verbos utilizados em alemão para o resultado das ações acima seriam os seguintes: liegen, stehen, sitzen, hängen, stecken. Vejamos os seguintes exemplos:

Das Buch liegt auf dem Tisch

O livro está (deitado) na mesa

Das Buch steht auf dem Regal

O livro está (em pé) na prateleira

Mein Sohn sitzt auf dem Stuhl

Meu filho está (sentado) na cadeira

Das Bild hängt an dieser Wand

O quadro está (pendurado) nesta parede

Der Schlüssel steckt im Schloss

A chave está (enfiada) na fechadura

Podemos observar que o verbo “estar” poderia ser utilizado sozinho, sem a necessidade de especificar a posição. Geralmente não fazemos essa especificação, mesmo quando há a possibilidade de fazer, mesmo quando há uma palavra que poderia ser usada para especificar a posição de um objeto posto em algum lugar. Com a atenção devida, podemos evitar erros, mas é necessário um esforço para interiorizar este espírito especificador do alemão.

Durante este trabalho de interiorizar estas especificidades, o aluno e o professor devem conduzir o estudo de modo a sempre chamar atenção para o campo semântico das palavras. Não é um trabalho fácil que pode ser feito do dia para noite, é um trabalho duro que deve ser feito ao longo do estudo/ensino do alemão. Aos poucos, se for bem conduzido, vamos interiorizando este nível de especificidade do vocabulário alemão. No longo prazo, se sempre estudarmos as palavras com a atenção voltada para estes detalhes, não teremos problemas e vamos conseguir treinar nosso cérebro para outra perspectiva, neste caso menos polissêmica.

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