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O problema dos brasileiros com os verbos give, show, pay, lend, offer, …

 

A seção a pinch of grammar é uma seção de artigos em que apresentamos um tópico gramatical do inglês que costuma causar dificuldades para falantes nativos de português. A tradução literal da expressão “a pinch of grammar” seria “uma pitada de gramática”. Entre os inúmeros tópicos gramaticais do inglês, alguns são especialmente difíceis para um brasileiro, por envolver estruturas que seriam diferentes em português. Na seção de artigos “a pinch of grammar”, buscamos trazer alguns desses tópicos que deveriam estar em qualquer metodologia que busque ensinar inglês para brasileiros de forma eficiente. 

 

O que estes verbos têm de especial? Por que eles costumam ser problemáticos para quem fala português? Primeiro, eles aceitam duas regências, duas estruturas verbais distintas podem ser usadas para cada um desses verbos, de acordo com um mesmo padrão. Segundo, a voz passiva desses verbos geralmente causa problemas para falantes nativos de português. Vejamos alguns exemplos:

 

I gave two gifts to my son in his last birthday.

I gave my son two gifts in his last birthday.

 

I have just shown her this machine.

I have just shown this machine to her.

 

I lent her my book yesterday.

I lent my book to her yesterday.

 

Estes verbos aceitam sempre duas estruturas, podendo ser usados das seguintes maneiras: 1) com o objeto direto (a coisa) seguido de um objeto indireto (a pessoa), este último precedido pela preposição “to”; 2) com o objeto indireto (a pessoa) seguido do objeto direto (a coisa), mas com o detalhe de que o objeto indireto aqui não recebe nenhuma preposição, colocamos os dois objetos em sequência sem nenhuma preposição. Cabe um parêntesis aqui sobre o uso desta preposição em uma das duas estruturas. Um erro comum entre falantes nativos de português é escolher a preposição “for”, talvez porque imaginamos que se trata de uma doação ou algo do gênero, que é a semântica de muitos desses verbos, daí pensamos na preposição “for”. Contudo, a regência correta é usar a preposição “to” quando colocamos o objeto indireto (a pessoa) após o objeto direto (a coisa).

Outra dificuldade comum envolve a voz passiva desses verbos. Esta última dificuldade é um pouco mais difícil de ser resolvida, porque envolve uma restrição gramatical do português que os falantes nativos tendem a levar automaticamente para o inglês. Essa restrição do português envolve a voz passiva de forma geral, não apenas a voz passiva desses verbos em particular. Em português, nunca utilizamos o objeto indireto da voz ativa como sujeito da voz passiva. Essa restrição é aplicada a todos os verbos da língua. Por exemplo, verbos como “gostar de” e “rir de”não aceitam passiva, de modo que não podemos dizer algo como “ele é gostado por todos” ou “a piada foi rida por todos”. Essas última frases são agramaticais, já que nenhum falante nativo de português usaria essas passivas. Podemos observar que esta restrição é puramente gramatical, não envolve a semântica desses verbos. Por exemplo, poderíamos dizer “Maria é amada por todos”, mas não “Maria é gostada por todos”. A restrição na última frase não diz respeito à semântica do verbo “gostar”, o problema aqui é o fato de o verbo “gostar” exigir um objeto indireto. 

Para os verbos que são construídos com dois objetos, como em “dar algo para alguém”, “oferecer algo para alguém”, “emprestar algo para alguém”, etc., que são os verbos estudados neste artigo, só poderíamos fazer a passiva colocando como sujeito da oração passiva o objeto direto, nunca podemos colocar como sujeito da oração passiva o objeto indireto. Como a voz passiva é usada para dar ênfase ao objeto, ao paciente da ação, e diminuir a ênfase do agente, temos um problema aqui. Entre os dois objetos, o objeto indireto é geralmente um ser humano e gostaríamos de dar ênfase justamente para este objeto indireto, justamente porque se trata de um ser humano e tendemos a querer dar ênfase para os seres humanos. Veja os seguintes exemplos,

Ele ofereceu um emprego para meu filho. [voz ativa]

Um emprego foi oferecido para meu filho. [voz passiva]

*Meu filho foi oferecido um emprego. [agramatical]

A primeira frase está na voz ativa, enquanto as duas seguintes estão na voz passiva. A primeira é uma voz passiva possível, com o objeto direto da voz ativa exercendo a função de sujeito. A segunda é uma voz passiva agramatical em português, já que não podemos fazer a voz passiva colocando como sujeito o que seria o objeto indireto na voz ativa. Podemos observar que a voz passiva possível não é a forma mais natural de falar em português, justamente porque usamos a passiva quando queremos enfatizar o objeto, o paciente, e entre os dois objetos existentes gostaríamos de dar mais ênfase ao ser humano, que seria o objeto indireto. Como contornamos essa restrição gramatical e aplicamos a devida ênfase ao objeto indireto? Usando uma estrutura específica que tendemos a usar indevidamente em inglês. Vejamos a solução:

Ofereceram um emprego para meu filho.

 

Para retirar a ênfase do agente e colocar mais ênfase em pacientes que são os objetos indiretos desses verbos, usamos uma estrutura muito produtiva, como podemos observar nos exemplos abaixo. 

Ainda não me mostraram como usar esta máquina.

Me deram um conselho muito interessante ontem.

Nunca me deram dinheiro para fazer isto.

Me ofereceram um emprego na semana passada, mas eu recusei.

Se me emprestassem 10.000 dólares, eu resolveria este problema.

É interessante notar que, embora o verbo esteja no plural, não necessariamente o agente é um plural. Nas sentenças “Me deram um conselho…, “Me ofereceram um emprego…”, “Se me emprestassem…”, quem me deu este conselho, quem me ofereceu o emprego ou “quem me emprestaria o dinheiro” pode ser, e é provável que seja, uma única pessoa. O verbo conjugado no plural não indica um agente no plural, usamos esta estrutura apenas para diminuir o papel do agente e dar mais ênfase ao paciente que recebe esta ação. Esta estrutura é uma solução produtiva para evitar o uso da passiva nestes casos, tendo em vista que este uso seria agramatical em português. Como esta solução é uma estrutura recorrente em português, teremos sempre a tendência de usar uma estrutura análoga para dar ênfase para o objeto indireto. Contudo, o inglês usa simplesmente uma passiva, que é a voz usada de forma geral para colocar em evidência o objeto, qualquer que seja, e não apenas o objeto direto, como em português.

Quem fala português como língua nativa precisa estar muito atento a este fato. Um erro comum que observamos em inglês é usar um “they” como sujeito dessas frases e falar algo do tipo “They offered me a job last week”. Outro erro comum é a omissão total do sujeito, repetindo exatamente a estrutura do português e falando algo do tipo “Offered me a job last week”. O primeiro erro comum, “They offered me a job last week”, não seria agramatical em inglês, mas um falante nativo entenderia que você está falando de um agente específico que já foi citado antes e que é necessariamente plural. Estaríamos falando algo como “Eles me ofereceram um emprego semana passada”, de modo que um nativo logo pensaria: “Eles quem?”. Ou seja, estaríamos falando uma frase teoricamente possível em inglês, mas com uma mensagem completamente diferente do que gostaríamos de dizer. O segundo erro comum, “Offered me a job last week”, seria agramatical em inglês e um falante nativo não entenderia o que está querendo ser dito. Falar algo como “A job was offered to me” também não seria uma boa solução, já que a ênfase seria mais natural se fosse dada para o objeto que se refere a um ser humano, quando estamos diante de dois objetos. 

Esses erros são causados por interferência da gramática do português, que restringe o uso natural da voz passiva com o sujeito sendo o objeto indireto da voz ativa. Em inglês, diríamos:

My brother was offered a job last week.

Ofereceram um emprego para meu irmão semana passada.

 

I was given a wonderful gift in my last birthday.

Me deram um presente maravilhoso no meu último aniversário.

 

I haven’t been shown yet how to use this machine.

Ainda não me mostraram como usar esta máquina.

 

If I were lent 10,000 dollars, I could solve this problem.

Se me emprestassem 10 mil dólares, eu poderia resolver este problema.

Vamos analisar um dos exemplos acima, a sentença “I was given a wonderful gift in my last birthday”. Esta frase seria a maneira mais natural de expressar a ideia que daríamos com a sentença “Me deram um presente maravilhoso no meu último aniversário”. Dizer algo do tipo “A wonderful gift was given to me in my last birthday” não seria tão natural, pelos motivos apresentados acima: entre os dois objetos gramaticais, gostaríamos de dar ênfase para o objeto que se refere a um ser humano, e não para o objeto que se refere a uma coisa. Como explicado acima, usar um pronome “they” e dizer algo como “They gave me a wonderful gift” seria equivalente a dizer “Eles me deram um presente maravilhoso”, o que seria esquisito, já que não estamos falando de um agente específico e, além disso, ele provavelmente é singular pelo contexto dado. Ou seja, a única solução natural seria falar “I was given a wonderful gift in my last birthday”. 

Dominar o uso da voz passiva em qualquer língua é extremamente importante para a fluência. Semanticamente, a voz passiva é muito útil quando queremos dar evidência ao objeto e diminuir o papel do agente, porque entendemos que de alguma maneira o paciente é mais relevante em determinados contextos. Como o português é uma língua com restrição gramatical de determinados usos da voz passiva, precisamos estar atento aos usos da passiva que seriam agramaticais em português, porque tendemos a levar esta agramaticalidade para o inglês e a usar estruturas ou inexistentes ou com um sentido que não queremos dar. Existem outros usos da voz passiva que costumam causar dificuldades para os falantes nativos de português, mas que fogem do objetivo deste artigo, que é tratar desse uso específico envolvendo verbos como “give”, “offer”, “show”, “lend”, “pay”, etc. 

Para naturalizar e internalizar o uso desses verbos na voz passiva em inglês, é importante que o aluno tenha acesso a muitos exemplos e que também seja estimulado a criar suas próprias sentenças usando esta estrutura. Com a prática constante, o cérebro é capaz de aprender uma nova gramática. Como dito em outros artigos, o processo de aprendizado não deve ser confundido com o processo de aquisição. O processo de aquisição gramatical pelo qual uma criança passa em sua primeira infância não pode ser repetido em adultos. De uma forma geral, tanto adolescente quanto adultos se beneficiam de um estudo mais sistemático da língua, principalmente quando a metodologia por trás seleciona os tópicos mais relevantes levando em consideração a língua nativa do aluno e as potenciais dificuldades causadas por interferência dessa língua nativa. 

Em todos os cursos da Inner Tree, temos o cuidado de selecionar os tópicos que nossos alunos geralmente têm dificuldade. Nossa metodologia é personalizada e destinada a ajudar os brasileiros a melhorar o inglês de forma eficiente e com qualidade. Por isso, quando escolhemos o conteúdo programático dos cursos, não utilizamos metodologias não personalizadas, que não consideram a língua nativa de seus alunos. Escolhemos os tópicos que serão estudados de forma sistemática e com o objeto claro de dar uma atenção especial para esses e outros tópicos que podem causar mais dificuldades para um falante nativo de português. Essas dificuldades costumam envolver erros previsíveis e que se multiplicam. Quando focamos nossa atenção para essas estruturas de forma específica e sistemática, conseguimos reduzir centenas de erros potenciais ao mesmo tempo, melhorando nossa habilidade linguística de forma exponencial. 

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