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Ensino de línguas para adultos e crianças

 

 

 

 

 

 

 

 

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Há diversos estudos que mostram as diferenças e/ou semelhanças no aprendizado de línguas entre crianças e adultos. Não é segredo para ninguém que crianças são especialmente talentosas em aprender línguas. A questão que nos interessa é se adultos conseguem alcançar a fluência e se o nosso trabalho é maior que o de uma criança ou se levamos mais tempo para aprender uma língua do que uma criança. 

Entre os diversos estudos publicados na área, podemos citar um estudo recente, de 2018, publicado na revista Cognition e intitulado A critical period for second language acquisition: Evidence from 2/3 million English speakers. Este estudo discute a questão de até quando os seres humanos têm a capacidade de adquirir uma língua. Eles estimam que essa capacidade pode ir até os 17-18 anos, enquanto estudos anteriores mostravam que iria até os 15 anos. De todo modo, o que nos interessa aqui é a questão da aquisição de linguagem.

Uma criança imersa em um meio linguístico é capaz de adquirir uma gramática simplesmente por imersão. Ninguém ensina conjugação verbal, mas as crianças adquirem esse conhecimento. Muitos poderiam pensar que as crianças simplesmente memorizam e repetem falas já escutadas em algum momento. Contudo, toda criança comete erros que mostram que elas introduzem regras gramaticais, e não apenas repetem falas já escutadas. É comum ouvirmos crianças falarem coisas como “eu sabo”, “mamãe trazeu…”, “o passarinho está morrido”, “ele está barulhando”, etc., algo que não foi falado por nenhum adulto. As crianças não estão repetindo nenhuma fala quando elas cometem esses erros de regularização. Em todas as línguas, as crianças repetem esse padrão, o que mostra que essa é a maneira de adquirir uma língua, via estruturas gramaticais, regras gerais que são aplicadas quando usamos o vocabulário disponível na língua. Ou seja, ao contrário do senso comum, as crianças não repetem frases completas ditas pelos adultos, elas criam suas próprias frases com a aplicação de regras gerais da língua. 

O interessante desse processo é que tudo isso é adquirido pela criança, e não aprendido. Ninguém ensina a elas regras de posição dos advérbios, conjugação verbal, morfologia nominal, regras fonológicas, nada disso é ensinado, tudo é adquirido pelas crianças em uma determinada fase, chamada de fase de aquisição de linguagem. Os adultos, por outro lado, não têm mais a capacidade de adquirir uma língua por simples imersão. Claro que a imersão ajuda no aprendizado, pois com imersão conseguimos automatizar em nossos cérebros as estruturas aprendidas por meio do estudo.

A conclusão é que crianças adquirem uma língua, enquanto adultos aprendem uma língua, ou várias línguas. O cérebro de um adulto está em perfeita condição para aprender uma língua, embora não tenha mais a capacidade de adquirir. Ou seja, quando adultos, teremos que estudar para aprender uma gramática e usar essas regras com o léxico disponível de forma natural. Memorizar vocabulário é importante, mas só isso não é suficiente para falar bem uma língua estrangeira, sobretudo uma língua que tenha uma estrutura gramatical muito diferente da nossa língua nativa. 

Precisamos estudar a estrutura gramatical da língua-alvo, caso contrário iremos inevitavelmente usar nossa gramática nativa. Parece que o cérebro humano não gosta de usar vocabulário sem regras: na falta de conhecimento sobre as regras corretas usadas pelos falantes da língua estrangeira que queremos aprender, nosso cérebro acionará as velhas regras já conhecidas, que é a gramática de nossa língua nativa. Ao estudar as regras, precisamos focar nossos esforços no que é diferente, no que nos causaria uma dificuldade natural de construir, justamente por ser diferente de nossa língua nativa. Esse foco nos dará eficiência no estudo da língua, já que não é necessário gastar horas de estudo com estruturas que já usamos naturalmente, pelo simples fato de coincidir com nossa gramática nativa.  

Outra conclusão importante é que se estamos diante de uma língua com estrutura muito similar à nossa, o trabalho será muito mais fácil, pois o aluno pode focar seus esforços quase que apenas na memorização de vocabulário, possíveis falsos cognatos, pronúncia e pronto. Seria o caso do espanhol para os brasileiros, língua que tem uma gramática aproximadamente de 90% de similaridade com nossa língua. Para um adulto brasileiro aprender espanhol, é possível deixar de lado o estudo da gramática, pelo menos até certo ponto. Contudo, para um adulto brasileiro aprender alemão, não é possível deixar de lado o estudo da gramática. Tudo depende da língua-alvo e do público-alvo. Para mais ideias sobre esse tema, leia o artigo sobre como um brasileiro pode aprender alemão de forma eficiente e rápida.

Em suma, adultos podem aprender quantas línguas desejarem, mas terá que passar pelo processo de aprendizagem, e não pelo processo de aquisição. Acreditar que, já adultos, podemos adquirir uma língua como o alemão simplesmente viajando e imergindo em um ambiente de fala alemã, é uma ilusão. A imersão ajudará na automatização das estruturas aprendidas, mas não é mais possível adquirir uma língua como o alemão só por imersão. A imersão pode ajudar muito no processo de automatização e naturalização, mas não no processo de aprendizado, que envolve mais reflexão que imersão. 

Só com imersão vamos no máximo memorizar um conjunto de vocabulário, mas não saberemos usá-los adequadamente em uma sentença, ou seja, na ordem correta dos elementos, com a morfologia correta, etc. Se tivermos acesso apenas ao vocabulário, terminamos por criar uma nova língua, com vocabulário da língua estrangeira que queremos aprender, mas com a gramática de nossa língua nativa. 

Quando estamos no contexto de aprendizado de línguas por adultos, precisamos de uma boa orientação e de uma metodologia que leve em consideração a língua nativa de quem quer aprender a língua estrangeira, e não apenas a língua a ser aprendida. Isto é muito importante e deve ser sempre levado em consideração pelos professores e criadores de métodos. Como adultos só podem aprender uma língua, mas nunca adquiri-la, e como utilizamos nossa gramática nativa automaticamente se não tivermos o conhecimento de uma regra gramatical, podemos focar nossos esforços na parte da gramática que é diferente. 

Este foco no diferente traz eficiência no estudo, já que provavelmente vamos usar corretamente as estruturas similares às nossas. O erro é muito mais provável no diferente, não no que é igual. Este foco só é um problema para os criadores de métodos universais, já que estes serão sempre menos eficientes que os métodos voltados para determinado grupo, como “alemão para brasileiros”, “mandarim para vietnamitas” ou “mandarim para americanos”, e assim por diante. Os métodos mais eficientes são aqueles que levam em consideração não só a língua-alvo, mas também o público-alvo.

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