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A semântica e a estrutura da concessão 2: notwithstanding, despite, in spite of

 

A seção in depth é uma seção de artigos em que analisamos uma palavra ou um conjunto de palavras de forma profunda. O objetivo é ajudar os alunos a não apenas entender os diferentes aspectos semânticos envolvendo uma palavra ou um conjunto de palavras, mas também dominar seus usos e diferentes contextos gramaticais possíveis. Quando relevantes, também trazemos alguns detalhes fonológicos ou fonéticos. Todos esses aspectos em conjunto ajudam os alunos a falar inglês com mais naturalidade e fluência.

 

Atenção: esse texto é longo e complexo, porém muito importante para quem quer atingir o nível avançado em inglês. Caso esteja com pouco tempo, deixe a leitura para outro momento. A leitura desse artigo requer concentração

 

Introdução 

 

Este é o segundo artigo de uma série de três artigos sobre linking words que expressam a semântica de concessividade em inglês. Como explicado na introdução do primeiro artigo, a divisão em três artigos diz respeito aos três diferentes usos dessas palavras em inglês. As linking words são palavras gramaticais usadas para estabelecer alguma relação lógico-semântica entre sentenças ou entre elementos internos de uma mesma sentença. 

Esses conectivos lógicos existem em qualquer língua, porque precisamos conectar ideias, precisamos estabelecer relações lógico-semânticas de “causa”, de “consequência”, de “adição”, de “finalidade”, de “concessão”, etc. Para cada relação lógica, temos uma variedade de palavras que podem ser usadas, mas o contexto gramatical e o contexto de uso de cada uma delas pode variar bastante. 

Como explicamos na introdução do primeiro artigo, quando estabelecemos uma relação de concessividade entre dois acontecimentos, queremos dizer que é surpreendente que algo aconteça ou tenha acontecido tendo em vista um determinado fato. Assim, quando dizemos “embora ele tenha muito dinheiro, ele não é feliz”, queremos dizer que é surpreendente o fato de ele não ser feliz tendo em vista o fato de que ele tem muito dinheiro.

Também vimos que, embora haja muitas palavras para transmitir essa mesma semântica de concessividade, essas palavras podem ter usos gramaticais distintos. Por exemplo, podemos dizer “apesar da chuva, quero ir para a praia”, assim com também podemos dizer “embora esteja chovendo, quero ir para a praia” ou mesmo “apesar de estar chovendo, quero ir para a praia”. Estas três frases têm a mesma semântica, elas transmitem a mesma mensagem do ponto de vista semântico. Contudo, cada uma delas deve ser construída de forma específica. Por exemplo, nenhum falante nativo de português tenderia a dizer “embora a chuva, quero ir para a praia” ou “apesar de esteja chovendo, quero ir para a praia” ou “embora estar chovendo, quero ir para a praia”. 

Em inglês, todos os conectivos although, even though, albeit, despite, in spite ofnotwithstanding, however, nonetheless, nevertheless, even so, even then, etc. podem ser usados para expressar a semântica de concessividade. Neste artigo, vamos estudar as preposições “despite”, “in spite of” e “notwithstanding”. No primeiro artigo (link para o número 1 da série), estudamos as conjunções “although”, “though”, “even though” e “albeit”, usadas como conjunção. No terceiro artigo, vamos estudar “however”, “nonetheless”, “nevertheless”, “even so”, “even then”, que funcionam como expressões adverbiais.

 

As preposições “notwithstanding”, “despite”, “in spite of”

 

As preposições “notwithstanding”, “despite”, “in spite of” tem o mesmo significado que as conjunções “although”, “even though” e “though”. Contudo, a maneira como vamos construir as frases é completamente diferente. Como afirmamos acima, as conjunções “although”, “even though” e “though” são seguidas de uma oração com sujeito e verbo conjugado. Por outro lado, as preposições “notwithstanding”, “despite”, “in spite of” são usadas com um substantivo ou com uma oração, mas neste último caso o verbo não pode ser conjugado, precisa vir no gerund (-ing form). Vejamos os exemplos abaixo:

 

Despite the rain, I want to go to the beach.

Although it is raining, I want to go to the beach.

 

Notwithstanding his wealth, he is not happy.

Although he is rich, he is not happy.

 

Nos exemplos acima, podemos observar que, após “although”, usamos uma oração com sujeito explícito e um verbo conjugado. Quando usamos “despite” e “notwithstanding”, usamos um substantivo em seguida, como em “despite the rain” e “notwithstanding his wealth”. Também poderíamos usar uma oração após essas preposições, mas o verbo teria que ir para o gerund (forma -ing). Essa regra é geral em inglês: após preposições, qualquer uma, os verbos precisam ser empregados nesta forma. Vejamos o exemplo abaixo: 

 

Notwithstanding being rich, he is not happy.

 

Quando queremos usar uma oração após essas preposições, a oração precisa sofrer algumas modificações. Entre os termos que vão sofrer modificações, temos o verbo, que precisa ir para o gerund, e o sujeito da oração. O sujeito da oração é geralmente omitido, caso ele seja o mesmo sujeito da oração seguinte. Além disso, caso o sujeito da oração seja um pronome pessoal, na linguagem oral, usamos um dos pronomes oblíquos “me, you, him/her, us, you, them”. Na linguagem formal, usamos os adjetivos possessivos “my, your, his/her, our, your, their”. É importante notar que o uso desses possessivos daria um tom extremamente formal para nossa oração. Caso o sujeito da oração seja um nome, na linguagem oral, não teríamos nenhuma modificação, mas na linguagem formal usamos um genitive case, aquele em que usamos um apóstrofo para marcar o possuidor de algo. Vejamos os exemplos abaixo:

 

Despite him begging, I refused his offer. [não formal] 

Despite his begging, I refused his offer. [formal]

Apesar de ele implorar, eu recusei a sua oferta.

 

Despite me begging, he refused my offer. [não formal] 

Despite my begging, he refused my offer. [formal]

Apesar de eu implorar, ele recusou minha oferta.

 

Despite John begging, I refused his offer. [não formal] 

Despite John’s begging, I refused his offer. [formal]

Apesar de o John implorar, eu recusei a sua oferta.

 

Para um falante nativo de português, é importante observar que o verbo está na forma -ing. Em português, usamos um infinitivo, mas em inglês não poderíamos usar as formas infinitivas, precisamos usar a forma chamada gerund. Essa regra é uma regra extremamente forte, já que sempre usamos gerund após qualquer preposição, em particular as preposições “despite”, “in spite of” e “notwithstanding”. Um erro comum de falantes nativos de português é usar um infinitivo após preposições.

Além disso, como podemos observar em alguns dos exemplos acima, caso o sujeito do verbo em sua forma gerunda seja explicitado, não usamos o pronome pessoal em sua forma para sujeitos. Diferente do português normativo, em que se fala “apesar de eu implorar”, em inglês, falamos “despite me begging”. No inglês formal, também poderíamos usar o adjetivo possessivo, de modo que falaríamos “despite my doing”. 

Para um falante nativo de português, também é importante lembrar que não usamos “of” após “despite”. Um erro comum de falantes nativos de português é falar “despite of”, por interferência da locução “apesar de” do português. Contudo, a locução “in spite of” vem sempre acompanhada de “of”, sempre falamos “in spite of something” ou “despite something”. 

Precisamos naturalizar e internalizar os usos corretos dessas palavras, não apenas sua semântica. Quando estudamos as linking words que indicam uma relação lógico-semântica de causa, de consequência, de adição, etc. precisamos fazer o mesmo trabalho que fizemos aqui. Precisamos dominar não apenas a semântica, mas também os contextos gramaticais e modalidades de uso, para conseguir usar essas palavras de forma adequada e em construções que seriam naturais para um nativo. Entender a semântica de causa, de consequência, de adição, etc. não é nada muito problemático, o problema está nos usos específicos em que pode ser usado um conjunto de palavras que transmitem uma mesma semântica específica. Estes usos e contextos são adquiridos pelos falantes nativos na primeira infância, mas podem e devem ser estudados por adolescentes e adultos que queiram usar estas palavras de forma correta. 

Em suma, quando estamos lidando com linking words, precisamos entender a semântica da palavra, os contextos gramaticais em que cada palavra pode ser usada e a modalidade de uso. É importante lembrar que, para naturalizar o uso correto dessas palavras, precisamos praticar e fazer muitos exercícios. Para a fixação e naturalização dessas estruturas, é importante fazer não apenas exercícios de prática de escrita e fala, mas também exercícios especificamente desenhados para aprender e fixar os usos dessas palavras.  Estes exercícios específicos em que somos levados a usar essas palavras ajudam a trazer eficiência para o processo de fixação e naturalização desses usos. 

Como explicado em diversas ocasiões, esse processo de naturalização e internalização deve ser via aprendizado, e não via aquisição apenas por imersão. Embora o aprendizado possa ser duro, uma metodologia adequada e personalizada pode tornar esse caminho duro mais eficiente. Ao escolher o foco e o tempo de dedicação adequado aos tópicos que causam mais dificuldades levando em consideração a língua nativa do aluno, uma metodologia desempenha um papel central tanto para a eficácia quanto para a eficiência do aprendizado. Em todos os cursos oferecidos pela Inner Tree, temos o cuidado de escolher a dedo os tópicos que vamos apresentar e a profundidade em que vamos estudá-los, sempre levando em consideração nossos alunos. Além disso, sempre trazemos um bom número de exercícios de prática para que os alunos exercitem e internalizem esses usos que costumam causar mais problemas de forma correta e eficiente.

De uma forma geral, quando estivermos usando estes conectivos (linking words), precisamos sempre levar em consideração os contextos gramaticais em que cada palavra pode ou deve ser usada, não apenas a semântica da palavra e a modalidade de uso. Neste artigo, estudamos as preposições “despite”, “in spite of”,  “notwithstanding”, utilizadas para expressar a semântica de concessividade com a sentença construída de uma maneira específica. No primeiro artigo (link para o artigo 2), apresentamos as conjunções “although”, “though”, “even though” e “albeit”, usadas para expressar a mesma semântica, mas com diferenças na construção da sentença. No terceiro artigo (link para o número 3 da série), vamos estudar as expressões adverbiais “however”, “nonetheless”, “nevertheless”, “even so”, “even then”, que também podem ser usadas para expressar a ideia de concessividade, mas também com implicações para a construção da frase como um todo. Ao todo, são 12 palavras gramaticais que podem ser em um mesmo contexto semântico de concessividade, mas com diferenças relevantes para a construção das sentenças. 

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